terça-feira, 8 de setembro de 2009













Dj Primo Reportagem Especial

Alexandre Muzzilo Lopes era o nome dele. Mas todos o conheciam como Primo, DJ Primo. Filho de Dona Regina e Seu Ivan, irmão de Juliana, nascido em Curitiba, e com uma base musical vinda da própria família, recheada com muito samba, funk e soul. Desde criança, convivia em rodas de samba em festas de parentes, e até arriscava um repique e um pandeiro de vez em quando. Seu ídolo de infância? Michael Jackson. “O Alexandre sempre foi muito brincalhão, gostava de imitar os artistas, dançando. Amava o Michael Jackson. Imitava tudinho e era a sensação na família. (risos) ‘Billie Jeans’. Não podia ouvir que saia dançando”, lembra sua irmã, Juliana. Seu pai adorava mexer com caixas de som, cabos, montando e desmontando, e o filho sempre por perto, rodeando, observando, dando sinais que seu destino estaria por ali.Na escola ele conheceu o rap e o basquete. Apresentadopor seus amigos, o interesse pelo “ritmo e poesia” foi crescendo gradativamente. Formou grupo com amigos onde fazia rimas. Mas a iniciação aconteceu numa lloja no centro de Curitiba. A loja SPIN 94 era o ponto de encontro dos adoradores da cultura Hip-Hop. De dia funcionava como loja, com venda de roupas, discos e etc. De noite ela virava um estúdio de ensaio. Ali aconteciam os ensaios do grupo Black Out, um dos pioneiros do rap curitibano. Formado, inicialmente, pelo Jonathan (dono da SPIN 94), Bill e DJ KR, o grupo ensaiava três vezes por semana quando o expediente da loja acabava. Marlão, amigo dos integrantes do Black Out, estava sempre na loja e levava com ele um garoto franzino, calado e tímido, que ficava por lá até quando Marlão ia embora. Esse menino de roupas largas simples e boné que escondia o rosto foi tornando-se meio que um mascote da loja. Todos brincavam com ele. E como não sabiam seu nome, o chamavam de “o primo do Marlão”. E, de tanto o chamarem assim, acabou ficando somente “Primo”.Primo começou a ficar fascinado com os ensaios e, principalmente, com os toca-discos. Nessa mesma época, ele começou a trabalhar na SPIN 94. Quando KR não podia comparecer aos ensaios, colocavam o Primo para virar os instrumentais. Mesmo não sabendo e não tendo a técnica, ele ficava super feliz. Isso foi acontecendo cada vez com mais freqüência. A cada ensaio sua evolução era assustadora. Trazia novas propostas para as musicas, colagens e bases que ele mesmo editava em um toca-fitas. “Sim, ele tinha a manha de fazer loops com um deck de cassete incrível!”, conta Jonathan. “Seu crescimento era notável a ponto de eu ter de decidir colocá-lo no grupo, pois seu nível era bem superior ao dj atual. Que situação delicada trocar de DJ sendo que os dois envolvidos eram meus amigos. Fiz uma reunião com o KR e expliquei o inexplicável: ele seria substituído pelo tal piá que há tempos atrás nem sabia pegar direito no vinil.”, complementa. Jonathan foi o principal incentivador nesse início de carreira. Com a saída do KR, os toca-discos foram-se embora também, já que pertencia ao ex-DJ. Mas Jonathan apostou suas fichas no garoto Alexandre e, através de empréstimos de amigos e cachês de shows, conseguiu comprar um par de MKII. A partir daí foi só historia. “Primeiro show com o Primo como DJ oficial do grupo foi na abertura do show do Thaide & DJ Hum em Curitiba, no dia 8 de março de 1997, foi foda! Ele tremia pela pouca experiência de palco, imagine, quase quatro mil pessoas. Ele errou já no inicio e uma galerinha ali no pé do palco não perdoou e, em coro, gritava ‘amador, amador, amador’. Fiquei mordido, afinal ele era meu orgulho, mas eu sabia que ele tinha uma carta na manga. No meio do show eu e Bill trocaríamos de figurino e era o momento do DJ Primo fazer uma performance de scratchs e colagens que deixou todos de boca aberta. Enfim, ele destruiu e ao final eu falei no microfone ‘é isso que este menino é? Amador? Imagine quando ele for profissional!´ (risos)" .DJ Primo se tornou uma figura ativa no Hip-Hop curitibano. Mesmo com pouca idade, organizava festas memoráveis. “Peso Pesado” teve três edições, e em uma delas o Black Out foi o convidado. “Ele veio até nós e nos contratou. Eu achei muita atitude e moral de um piá do nada, vir e ter uma postura profissional que muitos adultos nunca tiveram.” Numa dessas festas, no bar Era Só O Que Faltava, Primo convidou os paulistanos DJ Nuts, Keffing, Negro Rico e Zé Gonzáles, que, impressionados com a técnica do garoto, retribuíram o convite e o levaram pra tocar em São Paulo. A partir daí a história do garoto franzino e tímido, começa a tomar o mundo. Em 2000, foi DJ da Drop Tour, com o time de skate da grife Drop Dead, e foi convidado pra abrir a final do Hip-Hop DJ, na época, o único campeonato dedicado a arte dos toca-discos no Brasil.Com diversas idas a SP, Primo foi impressionando a todos com sua técnica e simpatia. Em uma dessas ocasiões, na festa de aniversario do DJ Zé Gonzáles, um dos produtores do evento, Guigo, o viu tocar pela primeira vez e ficou chocado com a apresentação. Cismou de trazer o garoto para São Paulo. Foi a época de acontecimentos que mudaram a vida de Alexandre para sempre. A Red Bull Music Academy estava fazendo sua edição em São Paulo, e estavam por lá DJs como Cut Chemist, Babu, J.Rocc e Madlib. Nuts e Zégon o convidaram para ir no evento e por lá ele ficou, impressionando a todos, dos gringos aos brasileiros. Exatamente nesta época, o produtor Guigo, formou a Chocolate. Uma produtora/agencia com um projeto inovador: os melhores DJs do Brasil tocando a verdadeira musica Rap. A festa Chocolate estreou no club Mood com os convidados gringos que estavam no país e com Zégon, Nuts, Dubstrong e Primo como residentes. Foi a primeira residência dele em São Paulo e de lá ele tomou a cidade, firmando-se de vez. Tocou ao lado de Afrika Bambataa, Lyrics Born, fez trabalhos com Mamelo Sound System, Otto e Max B.O. Em 2003, foi chamado pelo rapper Marcelo D2 para ser o DJ oficial da turnê do disco “A Procura da Batida Perfeita” e fixou-se com o artista durante três anos seguidos, rodando o mundo. Durante esse período, porém, não parou de fazer trabalhos próprios, seja em palco, pista ou estúdio. Tocou ao lado de nomes de peso do rap alternativo internacional, como Hieroglyphics, Aesop Rock & Rob Sonic, e participou do projeto Brasilintime, sessão de improviso entre bateristas lendários (Wilson Das Neves, o nigeriano Tony Allen e Pupillo, da Nação Zumbi) e heróis do scratch (J-Rocc, Babu, do grupo Dilated Peoples).Outras paixões surgiram na vida de Alexandre. Uma delas foi a produção. Primo começou a produzir beats de muita qualidade. Produziu para Marcelo D2, MC Cindy, Helião & Negra Li, Kamau, Emicida, Subsolo, entre outros. A outra paixão foi sua mulher, Patrícia de Jesus, com quem conviveu até o fim de sua vida.Após a saída da banda de Marcelo D2, DJ Primo começou a trabalhar com Rappin’ Hood em shows e em seu programa na TV Cultura, o “Manos & Minas”. Também passou a ser figura ativa nas festas de break, tocando na Rockmaster Party e trabalhando com o Tsunami All-Stars, dos B.Boys Pelézinho, Chaverinho, Kokada, Catatau, Aranha e Neguim. Primo produzia as trilhas pros campeonatos, ajudava nas coreografias e até na vestimenta da crew. Em 2008, uma conquista inimaginável, começou a dar palestras e aulas de DJ e scratch na Faculdade Anhembi no Morumbi, apresentando para os acadêmicos, o instrumento que é um toca-disco. Infelizmente pouco tempo depois sua história foi interrompida, mas jamais será esquecida. “Ele tinha uma pressa incrível. Eu dizia ‘calma filho, tem tempo, vamos fazer isso amanhã’. E quando chegava o amanhã ele já tinha feito. Hoje entendo sua pressa. Ela foi responsável por conquistas, por realizações, por reconhecimento, por respeito, por admiração. Pelo orgulho que sinto do meu filho. Com tudo isso, nunca deixou de ser humilde, de se lembrar de todos, de desejar sempre que todos estivessem bem. Sempre foi muito família, tinha muitos projetos, muitos sonhos. Quando paro para pensar em como ele se foi cedo, penso também que cedo ele começou a batalhar para que tudo acontecesse a tempo, e foi o que aconteceu.”, finaliza Dona Regina, mãe de Alexandre

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